sábado, 26 de dezembro de 2009

Apenas Humanos

Se você já esteve visitando meu perfil, provavelmente sabe que sou psicólogo. Tenho uma série de características distintivas da imagem reinante sobre este tipo de profissional. Para começar, há a questão do gênero. Apenas 10% dos psicólogos brasileiros são homens. Além disso, tenho intimidade com a informática – algo que era aversivo para a maioria de meus colegas (espero que isto tenha mudado).

Durante a faculdade, conhecemos vários autores. É um curso com muitas leituras, que me apresentou não só a psicólogos famosos, mas principalmente a toda a sorte de estudiosos que se dedicaram a estudar a natureza humana.

Descobrir que o máximo que você encontra no curso de Psicologia são propostas teóricas com maior ou menor sucesso prático em diferentes situações foi algo bastante chocante para mim. Onde estava o solo firme? Descobri aos poucos que esta pergunta era algo antiga e mal vista. Aos poucos, conforme caminhamos no túnel, nossos olhos se acostumam com a escuridão, e vamos nos identificando com algumas dessas propostas, em detrimento de outras.

Desde sempre, me interessei pelos teóricos da psicologia científica – base para a Ciência do comportamento. Seu nome mais importante é B. F. Skinner. Confesso que tive que ir olhar no Google o que significava esse B. F.(Burrhus Frederic), pois em todos os textos que li, ninguém falou sobre seu primeiro nome. Outra coisa interessante (e a razão deste texto) é que só hoje vi uma foto dele. Pois é! Finalmente, ele deixou de ser uma vaca sagrada da Psicologia, e sua dimensão humana apareceu para mim. Foi uma foto de um velho, vistoriando um equipamento em suas mãos.

Olhando para Skinner (ou para Burrhus, pois agora que o vi sinto que posso tratá-lo pelo nome) pude imaginar que ele sentia dores nas costas, que tinha manhãs difíceis e mesmo que era capaz de sentir preguiça. Não era só o talento que descreveu relações entre comportamentos e suas implicações para nossos métodos de socialização e educação. Foi possível imaginar que tivesse sentido amor por outras pessoas, brincado com crianças, sentido fome, frio, interesse, medo. Não a segurança pessoal e natureza sisuda que eu fantasiava ao ler seus textos bem amarrados e argumentados.

Tive um amigo que costumava imaginar certas figuras autoritárias de seu cotidiano fazendo força no banheiro. Esta imagem fazia com que ele removesse instantaneamente a distância que esses indivíduos impunham a seus relacionamentos cotidianos. Sem considerar seus interlocutores como feitos de mármore, era capaz de ficar mais à vontade, mostrando melhor suas características positivas.

Algumas figuras de autoridade sempre inspirarão respeito. No entanto, sinto que um esforço poderia ser feito para permitir que nossos jovens conhecessem os teóricos ensinados nas escolas. Seria uma forma de permitir maior identificação, e mostrar que eles são apenas humanos.

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

A ética do brasileiro e a questão ambiental


Em discussão com uma equipe pertencente a uma empresa, discutimos que o comportamento ético é sempre uma questão a ser discutida dentro de cada universo, seja a micro-sociedade representada pela organização, seja a cidade, o país ou o planeta.

Para as empresas, em linhas gerais, é importante que o indivíduo respeite as regras internas, e não permita que esta sofra desvantagens em compras ou no uso dos recursos disponíveis. Ainda não entra para a maioria a questão da sustentabilidade, que é tão importante para a manutenção da habitabilidade de nosso planeta.

Já no âmbito nacional, as regras são mais difíceis de delimitar, se é que estão escritas. Acabo de ler que um famoso jogador de futebol foi condenado a restituir mais de 300.000 reais que sonegou em impostos. Sonegar impostos, sem considerar os erros cometidos por aqueles que deveriam zelar pelo erário público, é errado e todos sabemos disto. Não adianta justificar seu erro com base no (hoje provável) erro dos governantes. Sonegar é tirar dinheiro de obras necessárias, saúde, educação, saneamento, segurança, etc. É fazer nosso país um lugar pior para viver.

Mesmo assim, este sonegador não sofrerá protestos, nem perderá fãs por causa desta condenação. Em nosso país, aqueles que devem (dinheiro, ou estão em falta com as regras sociais) muitas vezes acreditam (e são recompensados) na ausência de punição. Justificam-se com a inexperiência, a fraqueza moral, e nós perdoamos. Aqui é aceito que o presidente não saiba que roubam sob seus bigodes, que um supermercado tolere perdas por furtos, que alguém tente obter vantagem sobre o outro. É a lei de Gerson, a malandragem, infelizmente tão cultuada como sinônimo de inteligência. Como romper este fator cultural que tanto penaliza nossa sociedade?

Que moral nós temos para exigir protagonismo em negociações como a que atualmente está ocorrendo sobre o clima? Nosso triste histórico me faz pensar que sequer temos um sentido de nação que permita defender nossos interesses coletivos, que dirá um sentido supra-nacional, necessário para discutir assuntos ambientais. Penso que as metas definidas e atuais condutas brasileiras não são definidas pelas razões certas, mas apenas por interesses marketeiros. Achou muito negativo? Tem alguma esperança para transmitir? Então comente.

domingo, 6 de dezembro de 2009

Dá para ser autêntico?


Cada vez mais a sociedade de consumo dita as regras de moda, comportamento e interação social. Estou aqui pensando até que ponto isto vai, e até onde devemos entender e acompanhar este fenômeno social.

A resposta puramente contestadora, de valorizar a individualidade e pregar o “seja você mesmo” me parece um tanto ingênua. Somos um ser social, e a todo momento precisamos das pessoas à nossa volta. É natural pensar que vamos polir e escolher nossa conduta, visto que ela contribui para controlar a resposta dos demais. Há o exemplo da escolha das roupas apropriadas para cada ambiente, ou ainda a conduta de cordialidade com os outros, que por sua vez acaba aumentando a chance de que sejam polidos com você.

Por outro lado, a resposta conformada nos faz agir como robôs. Se você ouve apenas a musica que o rádio te oferece, gosta dos programas e assuntos que a TV tem divulgado, assiste e gosta de todos os filmes que vê no cinema, usa as roupas seguindo o manequim do shopping, então você fica MUITO chato. Aqui vale o desabafo, de que estou realmente de saco cheio de gente politicamente correta, que responde apenas o que acha que vc quer ouvir, e não o que quer dizer.

Talvez haja um meio termo adequado, mas é algo difícil de precisar. Algo que nos permita interagir adequadamente com o grupo, e ao mesmo tempo garantir opiniões autênticas, que caracterizam algumas diferenças e nós, e deixam transparecer o fato concreto de que todos temos experiências de vida diferentes, o que configura olhares diferentes.

Olho para os profissionais em muitas empresas nas quais faço consultoria e vejo excesso de comunicações meramente “adequadas”. Quando sabe que está sendo avaliado, o ser humano vira “ser profissional” e passa a dar as respostas que pensa serem as interessantes. Com o tempo porém, são aquelas pessoas de verdade, com defeitos admitidos e a incansável vontade de fazer melhor que fazem a história das organizações. Os pasteurizados são assim, facilmente substituíveis.